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sábado, 19 de novembro de 2016

Sons pretéritos - Gilberto Costa

Aqueles sons nossos de antes
São restos de sons distantes.
São poucos os sons visitantes
De bem-te-vis e sabiás cantantes.
São poucos os sons andantes.
São poucos os sons galopantes.
São poucos os sons de galinhas ciscantes.
São poucos os sons de mariposas esvoaçantes.
São poucos os sons de gaivotas dançantes.
São poucos os sons de cabritos berrantes.
São poucos os sons gritantes
De crianças na hora do lanche.
São poucos os sons confiantes.
São poucos os sons vibrantes
De atletas em momentos triunfantes.
São poucos os sons dos amantes.
São poucos os sons diante
De beijos apaixonantes.
Aqueles sons nossos de antes
São restos de sons distantes.
Já não se ouve o sino da Catedral.
Já não se ouve mugidos no curral.
Já não se ouve o Seridó Rural.
Já não se ouve aboios de vaqueiros.
Já não se ouve brados de cocheiros.
Já não se ouve talheres na ceia.
Já não se ouve poesias à lua cheia.
Já não se ouve preces noturnas.
Já não se ouve dízimo nas urnas.
Já não se ouve pedidos de benção.
Já não se ouve um "com licença".
Já não se ouve convites para passeios.
Já não se ouve um galanteio.
Já não se ouve um papo em família.
É minguante o coral na homilia.
Aqueles sons nossos de antes
São restos de sons distantes.
Mas, ainda há sons confiantes
Em sons ressuscitantes.

Gilberto Costa - poeta e escritor caicoense. 

domingo, 13 de novembro de 2016

Um convite - Gilberto Costa

Atingi o limite do conhecido.
Escuto um choro, recém nascido.
Apuro os ouvidos, ainda estou vivo.
Enxergo um berço, isso faz sentido.
Parece igual ao que tenho visto,
Mas é diferente e não duvido.
Enxergo de novo o meu convívio.
Nada foi destruído, sinto um alívio.
Eu te convido, venha comigo

Poeta Gilberto Costa

Tipoias sociais

Por Gilberto Costa


Domingo é dia de crônicas. E que sejam imersivas. E que se espalhem pelas “Tipoias Sociais” e se aquietem no repouso do corpo. E que a mente decante no coração e aflore o amor além da virtualidade.

Nas tipoias sociais os corpos se espreguiçam após o primeiro canto do galo. E os ouvidos se aproximam dos lábios para que as falas se permitam mais audíveis e as conversas sejam mais sentidas. E os olhos se olham mais e se demoram cara a cara, espiando-se na cumplicidade da paixão.

Nas tipoias sociais os fatos se vão e retornam no vai e vem do balanço e acontecem de forma presencial. E as pessoas compartilham as histórias contadas pelos nossos antepassados. E curtem as fotografias dos álbuns de família. E um um bule de café coado no pano e adoçado com rapadura é servido. E vez por outra um cachimbo é alimentado por uma brasa.

Nas tipoias sociais há versos de acolhida em arco, no meio do mato ou em casa à espera de um abraço. E há aves e árvores em seu entorno. E há um rangido no canto do torno.

Domingo é dia de crônicas. E a alma se acalma estirada na doce calma do sertão. E tira uma madorna nos capuchos do algodão.