Como meio de vida o meu pai escolheu ser caminhoneiro. Foi com aquela atividade – transportando cargas e passageiros – que ele criou nove filhos, cinco com a minha mãe e os demais “fabricados” ao longo das estradas deste país. Em consequência dessa laboriosa e honrada profissão, durante meus anos de infância e juventude, vi desfilarem em nossas vidas inúmeros veículos das mais variadas marcas, modelos e anos de fabricação, dentre os quais tentarei relembrar de alguns.
O maior retrospecto que a minha memória consegue alcançar chega ao ano de 1944, quando meu velho comprou em São Paulo um caminhão Ford movido a “óleo cru” e que foi o primeiro deste gênero que chegou ao Seridó, exatamente em Caicó.
Recordo-me também de um caminhão, o Chevrolet 1945, conhecido popularmente como “Cara Suja” (a grade dianteira era preta) e “Canela Fina” (com um eixo diferencial delgado), cabina de aço (que meu pai mandou transformar em cabina de madeira com bagageiro externo na parte superior), faróis em cima dos para-lamas e sinaleiras nas laterais da cabina que, quando ligadas, saíam umas linguetas de dentro de uma caixa, que lembravam os olhos de um caranguejo.
Posteriormente meu pai adquiriu um caminhão Chevrolet, ano 1946, este mais moderno do que o anterior, cognominado de “Cara Branca” (a tela dianteira era niquelada) e “Canela Grossa” (o diferencial com maior potência, mais engrenagens, mais grosso). Naquela época contava-se uma piadinha que dizia que um proprietário de dois caminhões, marca Chevrolet, um ano 1945 e outro ano 1946, escreveu nos para-choques: “O que ganho com o Cara Branca, gasto com o Cara Preta”. O delegado da cidade não gostou e mandou retirar aqueles dizeres dúbios. O proprietário retirou, mas em seu lugar escreveu: “O que ganho com o Cara Branca, continuo gastando”.
Por Ciduca Barros - escritor caicoense.
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